Portugal entre as cidades europeias a precisar de mais ruas amigas das crianças
Lisboa em penúltimo lugar entre as 36 cidades analisadas
Um novo relatório europeu intitulado “Streets for Kids, Cities for All” , publicado pela rede Clean Cities (hospedada pela Transport & Environment), avaliou 36 cidades europeias quanto à sua mobilidade urbana amiga das crianças . O resultado para Portugal não é animador: Lisboa e Porto ficaram entre as cidades com piores desempenhos , com classificações abaixo da média europeia.
O estudo analisa três indicadores principais:
Ruas escolares – zonas pedonalizadas ou com tráfego limitado junto às escolas;
Velocidades seguras – percursos com limite máximo de 30 km/h;
Infraestruturas cicláveis protegidas – pistas de bicicleta separadas fisicamente do trânsito automóvel.
🔍 Portugal nas últimas posições do ranking europeu
Entre as 36 cidades analisadas, Lisboa aparece em 35.º lugar , com apenas 4,5% dos pontos possíveis (classificação “F”), enquanto Porto não está incluído diretamente no estudo , mas cidades semelhantes como Braga, Faro ou Coimbra também estão longe de atingir os níveis mínimos recomendados.
Lisboa tem menos de 10% das suas ruas sob limite de 30 km/h , um dos critérios mais importantes para aumentar a segurança rodoviária infantil.
Não foram identificadas ruas escolares permanentes na cidade, ao contrário de Londres, que já conta com mais de 500.
A infraestrutura ciclável protegida também é escassa, com poucas pistas realmente seguras para crianças usarem de forma autónoma.
🚦 Boas práticas europeias com que Portugal pode aprender
Cidades como Paris , que lidera o ranking com 79% de pontuação total , mostram que é possível mudar rapidamente. Paris implementou mais de 125 ruas escolares , introduziu o limite geralizado de 30 km/h desde 2021 e construiu uma rede ciclável protegida em 48% do seu território .
Outras boas práticas incluem:
Bolonha (Itália) , onde o limite de 30 km/h abrange mais de 60% das ruas , contribuindo para uma redução significativa de acidentes.
Oslo (Noruega) , que usa o conceito de "Heart Zones", incentivando famílias a evitar o carro no redor das escolas.
Londres, que lidera mundialmente no número de ruas escolares , com mais de 500 implementadas .
🧒 Porquê investir em mobilidade amiga das crianças?
As crianças são particularmente vulneráveis aos riscos do trânsito, poluição do ar e ruído. Segundo o relatório:
Em 2021, mais de 18 crianças foram gravemente feridas todos os dias na União Europeia em acidentes de viação.
Mais de 1.200 mortes prematuras de crianças e adolescentes em toda a Europa são causadas pela poluição do ar anualmente.
As crianças que vivem em bairros mais pobres têm maior exposição à poluição e menores condições de mobilidade ativa.
Investir em ruas mais seguras, verdes e tranquilas não beneficia apenas as crianças, mas melhora a qualidade de vida de todos os habitantes urbanos .
📌 Recomendações para Portugal
O relatório faz várias recomendações às cidades, governos nacionais e à União Europeia:
Para as cidades portuguesas :
Criar programas municipais de ruas escolares , começando pelas escolas primárias.
Reduzir a velocidade máxima para 30 km/h em áreas urbanas densas .
Investir em infraestruturas cicláveis protegidas e acessíveis para crianças.
Promover espaços públicos mais verdes e inclusivos , com prioridade para peões e bicicletas.
Para o Governo de Portugal :
Alterar a legislação de trânsito para permitir que cidades definam regras locais , como ruas escolares e zonas de baixa velocidade.
Criar um Plano Nacional de Mobilidade Amiga das Crianças , com metas claras até 2030.
Apoiar financeiramente municípios que queiram transformar ruas em espaços mais seguros e sustentáveis.
Para a União Europeia :
Incluir orientações sobre ruas escolares e ciclovias protegidas nos próximos documentos de segurança rodoviária.
Garantir dados fiáveis sobre acidentes por idade e tipo de veículo.
Financiar projetos de mobilidade urbana através dos fundos estruturais europeus.
✅ Conclusão
O relatório mostra que não há cidades impossíveis de transformar – basta vontade política, visão de longo prazo e envolvimento da comunidade. Paris, Londres e Bolonha fizeram grandes mudanças em poucos anos. Agora é a vez de Portugal assumir compromissos ambiciosos com as futuras gerações.
Como diz o investigador Tim Gill:
“Uma cidade boa para as crianças é boa para todos.”
António Martins Neves, com auxílio da LLM Qwen